5/06/2013


Você se despediu. O primeiro evento climático foi uma chuva de “Com o tempo passa”. Não culpo ninguém. Por que culparia? É apenas o conselho mais óbvio que se dá para uma pessoa quando ela está mergulhada na água gelada de um poço: Isso, fica aí, o tempo não vai te deixar morrer de frio, fome nem doença nenhuma. Esse tempo que me prometeram não está dando empurrão nenhum, não enche meu copo d’água, nem mesmo acende meu cigarro. Esse é o mesmo tempo que faz questão de berrar, arrastar seus ponteiros caminhando na circunferência do relógio, como um velho obeso e letárgico passando na frente do meu quarto enquanto minha cabeça lateja de dor. O mesmo tempo que me engana, me faz pensar que dormi dia primeiro e acordei dia segundo, por levantar da cama exatamente do mesmo jeito em que deitei; me pregando a peça de passar no meu rosto espuma de barbear fora da validade, lavar meu cabelo com shampoo podre e chorar com meus cabelos mortos em minhas mãos. Só meu corpo deteriorando-se me faz descobrir da pior maneira que acordei dia trinta e um. Me fazendo me sentir mais inútil, mais fracassado, e com mais ódio de quem acreditou que eu teria a capacidade de deixar o tempo fazer seu serviço. Está tudo igual.
— Paulo Gonçalves

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